Prevenção é a melhor saída.


prevenção, intervenção, recuperação e reinserção social ao uso indevido do álcool e outras drogas.

terça-feira, 10 de julho de 2012


1. MOVIMENTO DAS COMUNIDADES TERAPÊUTICAS 
Em 1860 foi fundada uma organização religiosa chamada Oxford. Esta organização era uma crítica à Igreja da Inglaterra e seu objetivo era o renascimento espiritual da humanidade. Originalmente chamada Associação Cristã do I Século, acabou mudando de nome em 1990 para Moral Rearmement. Este grupo, conhecido como Grupo de Oxford, buscava um estilo de vida mais fiel aos ideais cristãos: se encontravam várias vezes por semana para ler e comentar a Bíblia e se comprometiam reciprocamente a serem honestos. 

Após 10-15 anos, constataram que 25% dos seus participantes eram alcoolistas em recuperação. 

Nos Estados Unidos, participantes deste grupo se reuniam para partilhar o empenho e esforço que faziam para permanecer sóbrios; desta maneira nasceu o primeiro grupo de Alcoólicos Anônimos (AA – fundado em Akron – Ohio, pelo cirurgião Bob e o Corretor de New York Bill, em 1935) que com o passar dos anos se tornou o maior grupo de Auto-Ajuda do mundo. 

No dia 18 de setembro de 1958, Chuck Deberich e um pequeno grupo de alcoolistas em recuperação decidiram viver juntos para, além de ficarem em abstinência, buscarem um estilo alternativo de vida. Fundaram em Sandra Mônica, na Califórnia, a primeira CT (Comunidade Terapêutica) que se chamou Synanon. Adotaram um sistema de relacionamento direcionado em uma atmosfera quase carismática, o que para o grupo foi muito terapêutico.

A aplicação do conceito de ajuda às pessoas em dificuldades, feita pelos próprios pares, era a base das relações vividas na Synanan, posteriormente em Daytop, onde cada pessoa se interessa e se sente responsável pelas outras. Desde o início acolheram alguns jovens que estavam tentando ficar em abstinência de outras drogas e em decorrência disto a Comunidade Terapêutica que teve seu início com uma CT para alcoolistas, abriu suas portas para jovens que usavam outras substâncias psicoativas. 

Este tipo de alternativa terapêutica se consolidou e deu origem a outras CTs que, conservando os conceitos básicos, aperfeiçoaram o modelo proposto pela Synanon.

A Comunidade Terapêutica DAYTOP VILLAGE é o exemplo mais significativo deste tipo de abordagem. Foi fundada em 1963 pelo Monsenhor William O`Brien e David Deitch, tornando-se um programa terapêutico muito articulado.

Com a multiplicação das iniciativas deste tipo de abordagem terapêutica na América do Norte, a experiência atravessou o Oceano Atlântico e deu início a programas terapêuticos no norte da Europa, principalmente na Inglaterra, Holanda, Bélgica, Suécia e Alemanha.

No início de 1979 a experiência chegou na Itália onde se fundou uma Escola de Formação para educadores de CTs e os educadores que passaram pela Formação deram um novo impulso na Espanha, América Latina, Ásia e África.

No campo psiquiátrico acontecia uma outra revolução: a experiência de comunidade terapêutica democrática para distúrbios mentais. O psiquiatra escocês MAXWELL JONES, trabalhando durante o período da II Guerra Mundial no hospital Maudsley em Londres e, sucessivamente nos de Henderson e Dingleton, de 1945 a 1969, transformou o trabalho tradicional e, como terapia, utilizava a psicoterapia individual e de grupo, eliminando ao máximo, o uso de medicação e envolvendo os pacientes nas atividades propostas.

O ex-psicanalista americano, Hobart º Mowrer, impressionado positivamente pela capacidade de recuperação através da abordagem das CTs, começou a estudar o fenômeno, sua história, os conteúdos e descobriu, através de diferentes experiências, pontos em comum que confirmaram algumas de suas hipóteses. A saber: 

Compartilhar: é um dos valores fundamentais comuns. A referência não é somente em relação aos bens, mas de compartilhar com os membros do grupo o que cada um possui do ponto de vista humano.

Honestidade: é um outro ponto forte que emerge do fenômeno das CTs: “Participe do grupo e fale coisas de você, não de política, trabalho ou de outras coisas. Fale do que provoca medo e dor dentro de você” (Synanon). É uma referência clara à necessidade do ser humano de comunicar-se, sem máscaras, em relações humanas autênticas. Esta honestidade diante do grupo é um valor muito antigo; apareceu nas primeiras comunidades cristãs e era chamada confissão aberta ou auto-revelação. Outra característica que aparece nos estudos do Dr. Mowrer é o abandono, nas relações terapêuticas, da posição clássica vertical médico e paciente. As interações que se estabelecem entre as pessoas rompem as estruturas rígidas da hierarquia, do cargo e oferecem mais possibilidades de ajuda. As funções, muito flexíveis, garantem a estrutura e a organização da vida comunitária. A atenção é colocada sobre o indivíduo no grupo ou na comunidade. Ele é o verdadeiro protagonista das ações terapêuticas porque sabe do que precisa, porém, sozinho, é incapaz de buscar, por isso a importância da auto-ajuda. Cada indivíduo é responsável pelo seu próprio crescimento e pede a ajuda necessária aos outros componentes para se ajudar. Sendo assim, cada um é “terapeuta” para si mesmo e para os outros componentes do grupo, da comunidade. A hierarquia é, unicamente, funcional e não interfere nas relações entre as pessoas.
A vida comunitária não poderá ser terapêutica se não desaparecer a dualidade equipe-residente. Isto significa que enquanto existir dentro da mesma estrutura o grupo que “faz” o tratamento e o grupo que “recebe” estamos muito longe da verdadeira terapia de grupo na CT.
O agente terapêutico não é a estrutura da CT, as regras, os instrumentos, mas tudo aquilo que estes instrumentos podem fazer para que cada residente possa viver, experimentar uma relação verdadeira e o amor entre as pessoas. A observação do comportamento instrumentaliza o indivíduo e o grupo a avaliarem os processos e o grau de integração social alcançados.
A observação objetiva das ações propicia a cada pessoa se responsabilizar pela avaliação de sues progressos, de seu crescimento e permite ao grupo a possibilidade de fazer distinção entre a pessoa e seu comportamento. 
  
Espiritualidade: todos esses grupos são capazes de resgatar e mobilizar a energia espiritual de seus componentes para que os mesmos encontrem a coragem necessária para enfrentar e buscar os objetivos propostos. A energia espiritual pode reintegrar a pessoa consigo mesma, com o grupo, com a comunidade, com a sociedade, com o seu Poder Superior. A CT tem capacidade de criar um ambiente ecumênico e oferecer os instrumentos para que o indivíduo tenha a oportunidade e a liberdade necessária para procurar sua própria origem e responder de maneira adequada a sua própria dimensão espiritual.
  
Algumas considerações de Elena Goti (1997) sobre a abordagem Comunidade Terapêutica:

  • Deve ser aceita voluntariamente;
  • Não se destina a todo tipo de dependente (isto ressalta a importância fundamental da Triagem como início do processo terapêutico. Muitas vezes algumas CTs, através de suas equipes, se sentem onipotentes e “adoecem” acreditando que se o residente não quiser ficar na CT é porque não quer recuperação. Não consideram que o residente tem o direito de escolher como e onde quer se tratar);
  • Deve reproduzir, o melhor possível, a realidade exterior para facilitar a reinserção;
  • Modelo de tratamento residencial;
  • Meio alternativo estruturado;
  • Atua através de um sistema de pressões artificialmente provocadas;
  • Estimula a explicação da patologia do residente, frente a seus pares;
  • Os pares servem de espelho da conseqüência social de seus atos;
  • Há um clima de tensão afetiva;
  • O residente é o principal ator de seu tratamento. A equipe oferece, apenas, apoio e ajuda.

  • Do ponto de vista cultural, o fenômeno moderno da CT está inserido na proposta da filosofia existencial que deu vida à escola da psicologia denominada Humanista.
      

    Nenhum comentário:

    Total de visualizações de página